a “pós-modernidade” e a “liquidez” das coisas, conceitos constituídos por Bauman, têm ganhado muitos adeptos por aí. Bauman lovers ou não, é inconteste que os processos das coisas andam mesmo mais rápidos e fluidos. Dá uma pesquisada aí sobre a criação e popularização da televisão e compara com a história dos smartphones 🏃♀️🏃♀️. Se compararmos esses processos com os das tecnologias das civilizações antigas, então... 🏃♀️🏃♀️🏃♀️🏃♀️🏃♀️
a rapidez dos processos pode até ser reflexo do contexto cultural da sociedade pós-moderna (tá feliz, Bauman? responde com sim ou não 😂). Maaaas a circularidade das coisas tem data mais antiga, apresentando-se de maneira perene e refletindo também na nova economia.
FORA DA CAIXA 📦🏃♀️
o conceito de circularidade cultural foi elaborado por Carlo Ginzburg, importante representante da historiografia, a partir de estudos de documentos da Inquisição (calma que eu juro 🙏 que tem tudo a ver com o que a gente tá falando aqui).
um dos livros que o historiógrafo escreveu (“O queijo e os vermes”) narra um julgamento feito pela Inquisição italiana na segunda metade do século XVI. O herege, Menocchio, era um moleiro (aquele que é responsável pelo funcionamento de um moinho) com atributos diferenciados para a sua condição social: alfabetizado, com hábito de leitura e porta-voz da tradição popular.
a capacidade de pensar com autonomia de Menocchio seria o resultado de alguns fatores. O surgimento da imprensa permitiu que um moleiro tivesse acesso a livros 📚. As ideias desses livros puderam ser confrontadas com a tradição oral que ele experenciava. Tendo adquirido a capacidade de organizar ideias, a Reforma Protestante permitiu que elas fossem proliferadas e ganhassem potência.
eis a representação da dinâmica relacional entre os diferentes níveis culturais, quebrando a ideia da “cultura popular” como oposição à “cultural erudita” (conceitos até então autônomos). Erudito e popular não são fenômenos estanques, que não dialogam.
já na era pré-industrial (que antecede a modernidade e, portanto, o objeto de deleite de Bauman), era possível perceber que entre o popular e o erudito existe “um relacionamento circular feito de influências recíprocas”, que se movia de baixo para cima e de cima para baixo.
essa circularidade está presente em vários processos da sociedade, antes mesmo do que Bauman chama de pós-modernidade. 📿 Santos católicos têm personas parecidas com orixás; 💃🏻o funk transcende o muro das favelas e chega nas festas de luxo; 🍟 o McDonald’s no Brasil tem escrito “Méqui” na fachada.
À evidência, essa vivência pode ser trazida com muita riqueza para os fundamentos da nova economia. Para além de apontar um caminho para se aproximar do consumidor (foco no cliente é um dos principais valores da nova economia), diz muito sobre a importância de estreitar os laços com os executores dos processos internos das empresas. 💡
É na vivência que a erudição, filtrada pelos valores e experiências da vida vivida, se transforma em cultura dominante.